segunda-feira, julho 20, 2020

Webinário analisa plataforma de aulas remotas adotadas durante a pandemia

Foto ALRS
A pandemia do novo coronavírus acelerou os planos das escolas em relação ao ensino remoto. Projetos neste sentido, que deveriam ser implantados gradativamente, acabaram entrando em funcionamento em pouco mais de dois meses por conta do isolamento social. O tema foi debatido na tarde desta segunda-feira (20) no primeiro webinário promovido pela Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia, que tratou das plataformas de aulas remotas adotadas pela Secretaria Estadual de Educação, Secretaria Municipal de Educação de Porto Alegre e Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS).


Foto Marta Resing
Neste modelo de videoconferência, até então inédito no Parlamento gaúcho, só os palestrantes se manifestaram. No entanto, a interação, por meio do chat, entre os mais de 200 participantes do evento foi intensa. Além de dirigir perguntas aos conferencistas, a assistência pode debater entre si. “Nosso primeiro webinário foi um sucesso. Já estamos preparando o segundo para agosto”, anunciou a presidente da Comissão e proponente da videoconferência, Sofia Cavedon (PT), que coordenou o encontro virtual.

Diário de classe eletrônico

Quando a pandemia atingiu o Brasil, Porto Alegre se preparava para implantar um projeto piloto de aula remota com apoio presencial em 10 escolas. Apanhado de surpresa, o município teve que se reorganizar. “A lógica que nos orientou foi a manutenção do vínculo entre professor e aluno e a noção de que aula remota é diferente de ensino à distância”, afirmou o secretário de Educação da capital,  Adriano Neves de Brito.

A plataforma adotada, segundo ele, é uma espécie diário de classe eletrônico, que registra presença do aluno, atividades realizadas, desempenho individual e da turma, entre outros itens. Já os conteúdos são obtidos em “plataformas parceiras”.

Respondendo  a questionamentos de internautas sobre o alcance e o acesso à ferramenta digital, Brito revelou que há o engajamento de 70% dos alunos da rede municipal. Apenas 5% dos estudantes, conforme o secretário, não têm acesso à plataforma. “Neste caso, garantiremos carga presencial para que o aluno possa receber os conteúdos”, assegurou.

Ele revelou também que a prefeitura de Porto Alegre está fechando acordo com empresas de telefonia para garantir que os alunos recebam, de forma gratuita, créditos de 100 megabytes por mês para acessar as aulas remotas.

Simulação de ambientes

A rede estadual optou pelo ambiente virtual de aprendizagem do Google por ser gratuito, apresentar facilidade de uso, oferecer integração com grande número de ferramentas e por simular ambientes existentes nos estabelecimentos de ensino. Conforme o representante da Sedec Sílvio Zommer, já estão implantadas 37 mil turmas espelhadas no Rio Grande do Sul, 400 mil ambientes virtuais, 2500 pátios virtuais e mil turmas de pré- Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM).

As salas de aulas e demais ambientes virtuais são acessadas, segundo Zommer, por 70% dos estudantes da rede estadual, por meio de computador, tablete ou celular. Busca ativa da Secretaria de Educação mostrou, no entanto, três situações distintas para os 30% que ainda não se aderiram: um grupo tem equipamento e tem internet, outro tem equipamento e não tem internet e um terceiro grupo, formado por 5% dos estudantes, não tem equipamento e nem internet. “Não deixaremos ninguém para trás. Fizemos um chamamento público com quatro operadoras e estamos na fase final de elaboração do contrato. Esperamos que, até o final da próxima semana, estudantes e professores já possam contar com internet patrocinada”, ressaltou.

UERGS


Foto ALRS
O terceiro caso analisado no webinário foi o da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul, que utiliza a plataforma Ava Moodle, desde 2012.  Com a suspensão das aulas presenciais no Rio Grande do Sul em março, a UERGS desenvolveu uma versão própria para atender as necessidades de professores e estudantes da instituição.

Segundo a professora Caroline Tavares de Souza Clesar, o processo de migração do ensino presencial para aulas remotas exigiu formação para o uso de tecnologia digital de alunos e professores, orientação pedagógica para o ensino remoto, elaboração de tutoriais no youtube, produção de séries de webinários, além do atendimento on-line à comunidade acadêmica.

Conjuntura


Foto ALRS
Quarta palestrante da tarde, a pesquisadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Vera Peroni alertou para os riscos de privatização da educação e para as armadilhas que as parcerias com instituições privadas podem conter. Segundo ela, com 80% das matrículas do ensino fundamental na rede pública, “o que está em jogo é a disputa pelo conteúdo da educação”.

Para a pesquisadora, o “projeto neoconservador” em curso no Brasil pretende alterar o papel do Estado, redefinir o conceito de democracia e, por meio de entidades particulares, interferir na gestão de escolas, na formação de professores e na elaboração de currículos.

A presidente da Comissão disse que “o olhar da professora da UFRGS traz um ingrediente novo para o tema”. “Não podemos nos posicionar de forma ingênua em relação às plataformas, especialmente, num momento em que o governo discute a possibilidade de destinar recursos do Fundeb para a iniciativa privada”, ponderou Sofia.

Fonte: Agência de Notícias da ALRS.